sexta-feira, 8 de novembro de 2013

C'est la vie - #24


Fomos jantar fora, para desanuviar um pouco. A comida estava óptima. O meu irmão triste mas toda a gente parecia esquecer um pouco a situação. Não me recordo como começou a conversa, mas surgiu uma pergunta perturbadora e marcante que até hoje continua a ecoar na minha mente e a fazer com que me arrependa de muita coisa. "Estavas a começar a gostar mesmo dele, não estavas?" Não cheguei a responder a tal pergunta. Fiz como faço cada vez que fico sem nada para dizer: desvio a cara e digo "não sei". Sei que tenho dito muitas vezes "e deu-me um aperto no coração", mas desta vez o meu nó na garganta apertou. Não soube o que responder. Talvez a resposta até fosse um redondo sim. Naquele momento, fiquei a matutar no assunto, mas sinceramente agora acho que foi estúpido. Passo a explicar: no lugar onde estava, não era o assunto certo a pensar. Se calhar pensar como enfrentar o 1º dia de escola fosse melhor que pensar numa coisa absurda. Ou, isso seria mais absurdo ainda? De qualquer forma, outras palavras me ficaram na memória: "A vossa mãe está a fazer isto por vocês. Portem-se bem." Acho que as pessoas não me vão compreender em certos aspectos quando falar no termo "mudança". Não se trata apenas de mudar de casa. Trata-se de muita mexida na vida. As coisas não são nem foram tão simples como parecem ou como podem parecer. 
A minha noite foi rápida, e no dia seguinte estávamos prontos a partir. Só aí é que me deixei umas lágrimas, porque não suporto de maneira alguma ver as minhas duas grandes mulheres da minha vida a chorar, uma por deixar a sua mãe sozinha e outra por ficar sem os seus netos e sem a sua filha. Apesar de não ter sido muito a água que escorreu pelo meu rosto, foi o suficiente para aliviar um terço do meu nó e dor de barriga. O resto ainda estava guardado, esperava evaporar-se com o tempo. A minha mãe tinha-me dito na noite passada, antes de ir dormir umas frases como estas: "Não importa quem cá esteja na altura de partir. Não importa quem seja. Não olhem para trás. Façam adeus, mas nunca olhem para trás." Ficámos curiosos e tocados pelas palavras ditas com algum brilho nos olhos da minha mãe e perguntámos o porquê de tudo isso. Dessa pequena regra. "Porque é assim..." - disse ela sem acrescentos. 
Era a altura de nos metermos dentro do carro e seguir viagem. 

 Continua...